A 1ª MULHER TRANSEXUAL E A 1ª VEZ QUE ME DEPILEI
Lili, a primeira mulher transexual serviu de inspiração para o roteiro de The Danish Girl (A Garota Dinamarquesa), filme com o premiado ator Eddie Redmayne e a minha comparação com a primeira vez que depilei as pernas.
Einar Mogens Wegener, nasceu em Vejle, na Dinamarca, em
1882, nasceu e teve seu sexo atribuído ao masculino, mas se descobriu Lili, uma
mulher. Apesar de ter sido casada com uma mulher, sempre teve uma aparência andrógena,
ou seja, com características tanto masculinas como femininas, mas o entendimento
de que havia algo “estranho” com sua aparência e seus desejos, veio depois do
casamento, até que sua transformação começou nas suas vestimentas e finalmente
fez a cirurgia, logicamente depois de um longo processo de conflitos e
sofrimentos. Foi provavelmente a primeira mulher transexual, seu casamento foi
anulado depois da transição de gênero, quando afinal passou a ser Lili Elbe,
que veio a falecer depois de uma tentativa de transplante de útero, sua
história foi adaptada para o cinema com o título de A garota dinamarquesa (The
danish girl), com atuação de Eddie Redmayne e direção de Tom Hooper (Os
miseráveis).
Mas esse texto não é necessariamente sobre o filme, nem
somente sobre transexualidade, até porque posso cometer alguns erros aqui no
que diz respeito ao assunto, o ser humano é muito complexo, somos infinitos em
nossas dúvidas pessoais e é sobre essas dúvidas, conflitos e preconceitos que
pretendo falar, de forma bem amadora até,
mas com todo respeito, respeito a diversidade.
Acredito eu que esse filme, pelo tema e dimensão de
visibilidade, trará a tona a discussão sobre as cirurgias de transição de
gênero, para muitos é complicado entender as diferenças entre gay, transexual,
travesti, bissexual, pansexual, g0y, mulher trans, homem trans, intersexual,
cis e sei lá mais o quê. Sinceramente? Não acho que eu precise saber ou
entender o que significa cada um, primeiro preciso aprender a respeitar como a
pessoa se identifica.
Acho que foi isso que levou Einar a querer mudar seu corpo e
passar a ser Lili, o fato de não se identificar com o seu corpo.
O que nos faz ser quem nós somos? Nosso cérebro? Nosso corpo?
Nossa alma?
Talvez tudo isso ou nada disso! O que interessa que é
sejamos felizes, seja usando saia ou calça, cabelo comprido ou curto, com barba
ou sem, pelos na perna ou não. Isso me faz lembrar de algo que aconteceu comigo
e associar com a cena do filme em que ele coloca um vestido pela primeira vez.
Até os 35 anos nunca havia depilado as pernas e para fazer
uma tatuagem o tatuador depilou o local da tattoo, então ficou estranho só uma
perna depilada, acabei depilando as duas pernas e no banho a sensação de sentir
a água escorrendo pelas pernas foi diferente, interessante,
não a ponto de ser excitante e muito menos de querer começar a fazer coisas que
muitas vezes são tidas como femininas, mas isso me fez pensar que assim como no
filme, quando ele colocou um vestido pela primeira vez, fez com que algo nele
despertasse e ter novas sensações é bom e não devemos nos privar por preconceitos, precisamos nos descobrir.
O homem é um universo a ser explorado e conhecermos nós
mesmos é fundamental, mas infelizmente vivemos onde o correto é ser semelhante,
alguém que foge dos padrões é hostilizado, os “diferentes” sofrem preconceitos
que matam e esquecemos que ninguém é igual a ninguém, cabe a cada um decidir o
que é melhor para si, para seu corpo, seu cérebro e sua alma, se é que são
esses, componentes que nos definem. Será que precisamos nos definir? Devemos sim
tentarmos nos entender, entendermos a nós mesmos, para que tenhamos mais
momentos de felicidade, realização, prazer, não existe um manual de
sobrevivência do ser humano, estamos aprendendo a todo momento e para um melhor
aprendizado, precisamos agir, e a atitude de mudar, assim como realizar uma
cirurgia de transição de gênero ou simplesmente depilar as pernas é algo de
direito pessoal e não cabe ao outro criticar ou tentar entender, sei que são mudanças completamente diferentes, mas ainda assim um direito pessoal.
Uma cena perfeita do filme é quando Lili, ainda como Einar,
antes da cirurgia, diz pra sua ainda esposa, que acredita ser uma mulher e a esposa,
provando seu amor, diz:
EU TAMBÉM ACREDITO!
EU TAMBÉM ACREDITO!
Sua vizinha, a Lili, o filho da Gretchen, a travesti ou eu com minhas
pernas depiladas, merecemos o respeito, pois cada um tem a sua diferença, mas
todos queremos ser felizes!
ABRAÇOS ORGULHOSOS
Alex Tietre
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