terça-feira, 29 de setembro de 2015

O FLERTE DOS GAYS COM O CINEMA

"Aumenta o número de filmes com temática LGBT no Brasil"


Cena do curta "Flerte" de Hsu Chien

     Não é de hoje que a sétima arte coloca nas telonas personagens gays, seja como protagonistas ou personagens caricatas na tentativa de fazer o público rir, mas independente da razão, eles estão em centenas de produções cinematográficas, desde o surgimento do cinema os gays sempre estiveram presentes, mas na China por exemplo, apesar de já existirem muitos filmes com gays e mesmo com o sucesso de Ang Lee, diretor de Brokeback Mountain, premiado no Oscar, só nesse ano os chineses puderam ver um filme gay nas telonas.
     Sãos inúmeros os filmes gays de sucesso ao longo dos anos, em alguns filmes com mais de 100 anos já tinha personagens gays, segue uma lista com alguns, dos anos 30 até o ano passado:
_ Diferente dos Outros (Anders als die Andern, Richard Oswald, 1930),
_ As Amizades Particulares (Les Amitiés Particulières, 1964),
_Os Rapazes da Banda (The Boys in The Band, 1970),
_Minha Adorável Lavanderia (My Beautiful Laundrette, 1985),
_Maurice (1987),
_Garotos de Programa (My Own Private Idaho, 1991),
_Traídos pelo Desejo (The Crying Game, 1992),
_Priscilla, A Rainha do Deserto (The Adventures of Priscilla, The Queen of Desert, 1994),
_Para Wong Fu, Obrigada por Tudo, Julie Newmar! (To Wong Foo, thanks for everything! Julie Newmar, 1995)
_Bent (1997),
_Cidade dos Sonhos (Mulhohand Dr., 2001),
_Má Educação (La Mala Educación, 2003),
_Mistérios da Carne (Misterious Skin, 2004),
_Transamerica (2006), Milk (2008),
_Direito de Amar (A Single Man, 2009),
_Minhas Mães e Meu Pai ( The Kids Are All Alright, 2010),
_Weekend (2012),
_Tatuagem (2013),
_Hoje eu quero voltar sozinho (2014),
_Praia do futuro (2014).

     Como é possível notar na lista acima, apenas nos últimos anos é que filmes brasileiros com temática LGBT ganharam visibilidade no circuito cinematográfico, os gays também ganharam mais espaço na tv, não apenas com personagens pequenos e caricatas, mas com histórias fortes e polêmicas, mostrando o primeiro beijo gay e o primeiro beijo lésbico, mas vamos voltar ao cinema.
     São muitas as razões para um aumento do número de filmes com essa temática no Brasil, as (pequenas) conquistas de direitos, manifestações, gays no poder, o talento de nossos cineastas e também o fato de que gays são um ótimo público alvo, gays consomem muita cultura e são bons consumidores, não economizam nesse quesito, existe também o fato de que o tema gera polêmica e isso acaba atraindo público, mas independente do motivo, o importante é que a comunidade LGBT está sendo representada nos cinemas, e o melhor, com filmes de qualidade.
     Mas as polêmicas, discussões e críticas também estão entre os gays, lésbicas, travestis e transexuais, muitos reclamam da forma que os personagens são apresentados, outros criticam o fato de usarem atores heterossexuais nesses personagens. Em conversa com o diretor de tv e cinema, Hsu Chien, que está com seu segundo projeto cinematográfico sobre gays, Hsu disse que acha uma discussão boba, “Filmes de grandes produtoras e distribuidoras que querem visar o grande público com um tema polêmico com certeza irão querer contratar atores que não sejam trans para interpretar o papel porquê isso é sinônimo de premiação. Um Ator ou atriz que faça uma performance digna e verdadeira provavelmente estará se desafiando como artista. E o público adora isso. Produções independentes por sua vez, irão apostar em artistas trans, pois isso irá conferir naturalismo, e existe um público que quer consumir essa onda de filmes realistas.”
Hsu Chien

     Ele também contou o motivo de estar mais uma vez dirigindo um curta com essa temática, seu novo projeto tem como título, “Encanto” e seu primeiro curta gay “Flerte”, já recebeu vários prêmios e continua concorrendo em festivais pelo mundo. “A idéia do curta ENCANTO veio do meu amigo e produtor Marcio Rosario. Existem muitos Festivais LGBTS mundo afora, e uma plateia ávida em consumir esses produtos.  Eu quando Dirijo não faço distinção entre gêneros ou temas, faço tudo com muita dedicação e afinco”, afirmou Hsu.


     A ideia do filme partiu de histórias que ouvia na adolescência no Rio de Janeiro, os anos 80 eram bastante permissivos e perigosos. Havia a Via Ápia, que era ponto de prostituição masculina e a Pedra do Arpoador era ponto de pegação gay. Tinham casos de gays assaltados e assassinados em ambos os lugares. São muitos casos de crimes contra homossexuais, por isso resolveu escrever o roteiro de Flerte. “Quis fazer um alerta para os gays”, justificou o diretor.
     Que venham muito filmes de muitos diretores, contanto que tenham a mesma qualidade dos filmes de Hsu Chien, Karim Aïnouz (Praia do futuro), Daniel Ribeiro (Hoje eu quero voltar sozinho), Hilton Lacerda (Tatuagem), entre outros, e que o Brasil represente com muito talento, não só a comunidade LGBT, mas todos os brasileiros, viva a sétima arte.

ABRAÇOS ORGULHOSOS
Alex Tietre

terça-feira, 1 de setembro de 2015

A 1ª MULHER TRANSEXUAL E A 1ª VEZ QUE ME DEPILEI

Lili, a primeira mulher transexual serviu de inspiração para o roteiro de The Danish Girl (A Garota Dinamarquesa), filme com o premiado ator Eddie Redmayne  e a minha comparação com a primeira vez que depilei as pernas.

 
Eddie Redmayne, como Lili e Lili Elbe - foto reprodução
Einar Mogens Wegener, nasceu em Vejle, na Dinamarca, em 1882, nasceu e teve seu sexo atribuído ao masculino, mas se descobriu Lili, uma mulher. Apesar de ter sido casada com uma mulher, sempre teve uma aparência andrógena, ou seja, com características tanto masculinas como femininas, mas o entendimento de que havia algo “estranho” com sua aparência e seus desejos, veio depois do casamento, até que sua transformação começou nas suas vestimentas e finalmente fez a cirurgia, logicamente depois de um longo processo de conflitos e sofrimentos. Foi provavelmente a primeira mulher transexual, seu casamento foi anulado depois da transição de gênero, quando afinal passou a ser Lili Elbe, que veio a falecer depois de uma tentativa de transplante de útero, sua história foi adaptada para o cinema com o título de A garota dinamarquesa (The danish girl), com atuação de Eddie Redmayne e direção de Tom Hooper (Os miseráveis).


Mas esse texto não é necessariamente sobre o filme, nem somente sobre transexualidade, até porque posso cometer alguns erros aqui no que diz respeito ao assunto, o ser humano é muito complexo, somos infinitos em nossas dúvidas pessoais e é sobre essas dúvidas, conflitos e preconceitos que pretendo falar, de forma bem amadora até,  mas com todo respeito, respeito a diversidade.
Acredito eu que esse filme, pelo tema e dimensão de visibilidade, trará a tona a discussão sobre as cirurgias de transição de gênero, para muitos é complicado entender as diferenças entre gay, transexual, travesti, bissexual, pansexual, g0y, mulher trans, homem trans, intersexual, cis e sei lá mais o quê. Sinceramente? Não acho que eu precise saber ou entender o que significa cada um, primeiro preciso aprender a respeitar como a pessoa se identifica.
Acho que foi isso que levou Einar a querer mudar seu corpo e passar a ser Lili, o fato de não se identificar com o seu corpo.
O que nos faz ser quem nós somos? Nosso cérebro? Nosso corpo? Nossa alma?
Talvez tudo isso ou nada disso! O que interessa que é sejamos felizes, seja usando saia ou calça, cabelo comprido ou curto, com barba ou sem, pelos na perna ou não. Isso me faz lembrar de algo que aconteceu comigo e associar com a cena do filme em que ele coloca um vestido pela primeira vez.
Até os 35 anos nunca havia depilado as pernas e para fazer uma tatuagem o tatuador depilou o local da tattoo, então ficou estranho só uma perna depilada, acabei depilando as duas pernas e no banho a sensação de sentir a água escorrendo pelas pernas foi diferente, interessante, não a ponto de ser excitante e muito menos de querer começar a fazer coisas que muitas vezes são tidas como femininas, mas isso me fez pensar que assim como no filme,  quando ele colocou um vestido pela primeira vez, fez com que algo nele despertasse e ter novas sensações é bom e não devemos nos privar por preconceitos, precisamos nos descobrir.
O homem é um universo a ser explorado e conhecermos nós mesmos é fundamental, mas infelizmente vivemos onde o correto é ser semelhante, alguém que foge dos padrões é hostilizado, os “diferentes” sofrem preconceitos que matam e esquecemos que ninguém é igual a ninguém, cabe a cada um decidir o que é melhor para si, para seu corpo, seu cérebro e sua alma, se é que são esses, componentes que nos definem. Será que precisamos nos definir? Devemos sim tentarmos nos entender, entendermos a nós mesmos, para que tenhamos mais momentos de felicidade, realização, prazer, não existe um manual de sobrevivência do ser humano, estamos aprendendo a todo momento e para um melhor aprendizado, precisamos agir, e a atitude de mudar, assim como realizar uma cirurgia de transição de gênero ou simplesmente depilar as pernas é algo de direito pessoal e não cabe ao outro criticar ou tentar entender, sei que são mudanças completamente diferentes, mas ainda assim um direito pessoal.
Uma cena perfeita do filme é quando Lili, ainda como Einar, antes da cirurgia, diz pra sua ainda esposa, que acredita ser uma mulher e a esposa, provando seu amor, diz:
EU TAMBÉM ACREDITO!

Sua vizinha, a Lili, o filho da Gretchen, a travesti ou eu com minhas pernas depiladas, merecemos o respeito, pois cada um tem a sua diferença, mas todos queremos ser felizes!


ABRAÇOS ORGULHOSOS

Alex Tietre