Alex Tietre, ator, autor, diretor e formado em jornalismo, seu blog é para divulgar e debater sobre preconceito e assuntos do universo LGBT.
terça-feira, 12 de julho de 2016
LIBERDADE, LIBERDADE... AOS GAYS
Cena de novela emociona alguns e provoca a ira dos homofóbicos
Foto reprodução
O que há por trás da bela e provocante cena de amor entre dois homens na novela global?
Não podemos negar que é fundamental que cada vez mais cenas como essa sejam mostradas, para que aquilo que para alguns, causa estranhamento, comece a ser compreendido como o que realmente é... natural.
O anúncio da relação dos personagens de Caio Blat e Ricardo Pereira causou discussões em redes sociais, antes mesmo da tal cena de sexo ser divulgada.
Aí está uma das coisas por trás da cena... calma, já explico!
Antes é preciso falar da delicada direção de Vinícius Coimbra, que além de tornar a cena bela, também fez com que ela tivesse a intensidade da relação de dois homens reprimidos sexualmente até então... a força do beijo fez lembrar uma das cenas do premiado filme "O Segredo de Brokeback Mountain".
1- Primeiro, logicamente é a importância para nós gays que a temática seja abordada e principalmente de forma bela e respeitosa, mostrando que além do sexo existe o amor entre gays;
2- Outra questão é a provocação, que também teu seu lado bom, mas que também causa ira nos conservadores, em alguns religiosos e homofóbicos que não se assumem homofóbicos, mas que nessas horas se manifestam nas redes dizendo que "é desnecessário", "o que dirão aos filhos" e "até tenho amigos gays, mas sou contra";
3- O terceiro ponto é que quando uma cena como essa é mostrada, por trás dela existe um interesse maior, que é o dinheiro... sim, não acredito que em primeiro lugar pensem na importância de lutar contra a homofobia e tornar o amor gay algo natural aos olhos dos espectadores.
Mas enfim, independente dos contras, a cena de amor e sexo entre os personagens André e Tolentino de Liberdade, Liberdade... foi um grito forte pela LIBERDADE LGBT e que venham muitas outras, desde que, com o respeito que merecemos.
A influência política LGBT passa pela imprensa e sétima arte.
Capa de divulgação do filme Milk - A voz da igualdade e do documentário #EU_JEANWYLLYS
O
filme, Milk – A voz da igualdade, do diretor Gus Van Sant é uma narrativa quase
documental da vida de um ativista gay que vive em São Francisco na Califórnia
nos anos 70, o ator Sean Penn vive Harvey Milk e o ator James Franco interpreta
seu companheiro, Franco é conhecido por defender as causas LGBTs, apesar de não
se definir como sendo gay. Milk na tentativa de levar uma vida normal com seu
companheiro abre uma loja de fotografia no bairro Castro e ao ser vítima de
preconceitos começa seu ativismo, depois de agressões, muita briga e algumas
tentativas de conseguir um cargo público, consegue apoios importantes, até
mesmo de conservadores, como Ronald Reagan e espaço na imprensa, afinal de
contas o jornalismo já era uma atividade de mudança social e acompanhava as
mudanças, pois não podia só acompanhar as regras da objetividade, Milk foi o
primeiro gay assumido a conseguir um cargo político nos Estados Unidos.
Existem
cenas do filme que fazem lembrar de acontecimentos atuais no Brasil, além da
semelhança de Milk com o deputado Jean Wyllys, hoje com as redes sociais muitos
gays boicotam produtos ou empresários que se posicionem contra a
homossexualidade, assim como Milk e seu grupo fizeram com alguns produtos, como
o boicote que fizeram contra a cerveja Coors que rapidamente deixou de ser a cerveja
mais vendida, já no Brasil O Boticário teve um aumento de vendas depois de um
comercial com casal gay que foi criticado em redes sociais e logo a comunidade
LGBT e simpatizantes reverteu a situação fazendo campanha para que comprassem
os produtos, muitas matérias foram feitas sobre o caso.
Em
outra cena do filme gays sofrem agressões em bares e guetos LGBT’s, no Brasil no
final do anos 70, jornais estampavam manchetes como “Operação Sapatão”, um
deles em São Paulo, onde uma operação de um delegado chamado Richetti, prendia
lésbicas que frequentavam um gueto lésbico existente desde os anos 60, a
matéria era do jornalista Omar Cupini Jr.
A
luta de Milk que começou nos anos 70 teve um resultado talvez maior do que ele esperava
mas que ainda não teve fim, mesmo com sua morte. Apesar de suas conquistas e
hoje São Francisco ser considerada a cidade gay, onde a comunidade LGBT
sente-se livre, apenas recentemente gays reconquistaram em alguns estados o
direitos civis, um documentário de Ben Cotner e Ted Olson chamado “Prop 8: o
casamento gay em julgamento” acompanha todo o processo de julgamentos sobre o
casamento gay, mostrando casais ativistas que lutam por seus direitos, até o
momento do primeiro casamento gay, mostrando inclusive o momento em que Barack
Obama, presidente dos Estados Unidos, liga para um dos ativistas e o parabeniza
pela conquista, a repercussão na imprensa norte americana foi surpreendente,
durante toda a saga dos advogados gays, antes mesmo da ligação de Obama.
No
Brasil o deputado Jean Wyllys conquistou boa parte da imprensa, não apenas por
ser considerado um intelectual, mas também pelo fato de ter estudado
jornalismo, um documentário sobre sua vida (#Eu_JeanWyllys), antes mesmo de
finalizado já está rendendo matérias, críticas e polêmicas, além de abordar
logicamente a questão gay, mostrará rituais de sua religião, o candomblé, e até
isso vira motivo de críticas, a temática LGBT causa polêmica e com isso
conquista leitores. Outro fato que o assemelha a história de Milk é sua luta
contra políticos religiosos e conservadores, no caso do filme, Milk luta contra
o conservadorismo da cantora Anita Bryant, que criou uma campanha chamada
“Salvem nossas crianças”, Anita fazia parte de uma congregação religiosa, enquanto
que Jean luta contra o conservadorismo de políticos e religiosos como Malafaia,
Marco Feliciano e Jair Bolsonaro.
Atualmente
nos Estados Unidos, gays estão formando gangs para lutar contra o preconceito,
um documentário sobre essa história está sendo lançado e tem o nome de “Check
it”, a gang real do documentário é liderada por um ex-presidiário e estão até
lançando uma marca de roupa, várias matérias sobre o assunto já circulam nos
EUA e no Brasil, aqui existe relato de uma gang semelhante, mas nada
confirmado, o que existem realmente são confirmações de gangs que perseguem
gays e negros.
A
grande diferença do jornalismo atual é a influência da internet, o preconceito
continua, grupos LGBTs estão obtendo conquistas, mas ainda com um longo caminho
pela frente e acompanhando esse caminho segue a imprensa, não necessariamente lutando
pela causa, mas sim, aproveitando as polêmicas, como casamento gay, adoção e
até mesmo pedofilia, que algumas mídias insistem em associar com a temática
LGBT, o que é um erro, erro tão gritante quanto usar a manchete “Operação
Sapatão”.
O
jornalismo talvez pouco tenha mudado desde os anos 70, talvez tenha apenas
sofrido adaptações junto com a sociedade e a tecnologia, mas o sensacionalismo continua
e em muitas matérias ainda é possível ver o despreparo sobre a temática, levando
muitas vezes ao desrespeito às questões de gênero, muitos jornalistas ainda
insistem por exemplo, em escrever “o travesti” ou “o traveco”, sem levar em
consideração que “traveco” é um termo pejorativo e preconceituoso, e como elas
definem-se como mulheres, então o correto é escrever “a travesti” e além disso,
saber as diferenças entre travestis, transexuais e etc, pesquisar sobre esse
universo, é fundamental antes de realizar uma matéria jornalística.
O
filme sobre Milk teve imensa repercussão, ótimas críticas, não apenas da
imprensa especializada, como de jornais e revistas com visão política que
fizeram uma ótima avaliação desse longa documental, a revista Piauí é um
exemplo de um bom destaque ao longa LGBT.
Quem pode e quem não pode usar as palavras "sapatão" ou "viado"?
Leo Fressato - arquivo pessoal do cantor
"Eu não sei você, mas eu sou sapatão... eu vim de caminhão", mais ou menos assim que começa, mais essa deliciosa música do meu, do seu, do nosso Leo... assim como na marchinha "Maria Sapatão" que conheço desde criança e ficava feliz, por saber que existiam pessoas que se identificavam além de um único gênero... a música de Leo, pelo que conheço dele, é nada mais que uma homenagem para as mulheres que ele ama e que também amam mulheres, esse "piazinho" (como chamamos os meninos no Paraná), é a alegria em pessoa, estar com ele é estar numa celebração pela vida e ele jamais usaria a sua arte para o preconceito, quem o conhece, mesmo que pouco, sabe que esse maravilhoso cantor, fala de amor e faz com amor suas músicas.
É uma pena que estejamos vivendo um momento em que não se sabe identificar onde está o real preconceito, o real desrespeito. Leo e eu, por exemplo, temos todo o direito de falarmos viado ou sapatão, pois falamos com orgulho do que somos... diferente daqueles que dizem com ódio ou rejeição. Essa história de politicamente correto tem que ser repensada em determinados casos, pra não ficarmos chatos demais... não pode mais cantar atirei o pau no gato, nem nega do cabelo duro, nem olha a cabeleira do Zezé... daqui a pouco só poderemos cantar música gospel.
A música de Leo, ao invés de reforçar o preconceito, como alguns podem pensar, ela defende uma causa, direitos, expõe uma realidade, fala de adoção... com naturalidade, a mesma naturalidade que ele fala de amor.
Por falar de amor, Leo Fressato... amei sua música, quanto mais te ouço, quanto mais te conheço... amo mais. Parabéns!
E que tenhamos mais coragem de levantarmos bandeiras, de sermos afetados, femininos, masculinas, sapatãs, viadas, travestidas, caminhoneiras, bichas, o que quisermos ser, contanto que sejamos felizes e tenhamos nossos direitos respeitados... agora subam em seus caminhões e curtam o carnaval.